sábado, 29 de janeiro de 2011

CRASH - NO LIMITE




“João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém”. Uso como pretexto esse famoso trecho do poema “Quadrilha” de Drummond para pensar metaforicamente não apenas os vínculos de afeto, mas também as inúmeras teias que formam as relações de poder em toda sociedade. Até pouco tempo, a questão das relações de poder era vista de maneira bem simples e esquemática: dominantes X dominados. Essa “grande equação”, que por vezes levava àquela outra do bem X o mal, contudo, pode revelar certas simplificações, justamente porque também é possível entender o poder, a dominação entre sujeitos e as relações de subordinação como elementos de um campo muito mais complexo de interesses. Nesse sentido, o premiado filme “Crash – No Limite” oferece um rico quadro de análise.

Crash, ganhador do Oscar de melhor filme em 2006, é resultado de um engenhoso roteiro que mescla de maneira inteligente várias estórias entrecruzadas. O cenário é a cidade de Los Angeles (EUA) e os conflitos entre seus habitantes de diversas etnias, profissões e classes sociais. Cada uma dessas estórias traz algo em comum: no fundo, são estórias que revelam conflitos de poder e de tolerância. Algumas delas são exemplares. O policial racista que humilha um casal de negros, mas também não consegue para seu pai um tratamento de saúde que dependeria de uma atendente negra; Os asiáticos que fazem contrabando de asiáticos, o árabe (persa), discriminado por sua origem, mas que destila seu ódio em um latino. E, uma das cenas mais curiosas, a “dondoca” (Sandra Bullock) que oprime sua empregada, Maria, mas, na hora em que mais necessitou, foi desta, e não de suas “amigas”, que obteve solidariedade. Em todas essas situações, os personagens revelam a paradoxal situação de serem opressores e oprimidos, intolerantes e intolerados.

Calma, essa percepção “horizontal” do poder não elimina a idéia anterior, do poder como algo também exercido coletivamente e pelo próprio Estado. Todavia, Crash ressalta a idéia de uma “microfísica do poder”, na perspectiva do pensador francês Michel Foucault. Para Foucault, o poder não é monopólio de uma instituição nem é exercido unilateralmente. O poder, tal como o amor, envolve a tudo e a todos. O poder não está fora dos sujeitos e de suas mais intimas relações. Parafraseando o poema “Quadrilha”, o poder envolve João, Teresa, Raimundo, Maria, Joaquim, Lili e até “J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na história”.





Vladimir Luz, professor do curso de Direito da UNESC.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

PAGAMENTO FINAL




Por que vemos filmes que já sabemos o final? Vários poderiam ser os motivos. Gostaria de apresentar apenas uma razão. É que, tal como nas tragédias gregas, o que nos fascina em certas estórias não é o seu final, em si, mas a teia psicológica de fatos que forma um fio tênue entre o não planejado, a escolha e o destino, e que conduz a um final já sabido ou intuído. O sensacional filme “Carlito’s Way” (1993) de Brian De Palma é um bom exemplo desta explicação de cunho filosófico-literário.



Carlito Brigante (Al Pacino) é um bandido “das antigas”, traficante de heroína que passou bons anos na prisão. Solto pela habilidade e astúcia do seu advogado e “amigo”, David Kleinfeld (Sean Peen), Carlito volta às ruas decidido a se redimir da vida criminosa. Contudo, Brigante percebe que os tempos são outros. Mesmo tentando não se meter em encrencas, Carlito vive com a sombra do seu passado. Um dos problemas centrais é que, no seu código de “ética” (Carlito’s way of life), há uma dívida de honra a ser paga a seu advogado (talvez por isso a infeliz versão do título em português, “Pagamento Final”). Ocorre que Kleinfeld precisava sempre de seus favores, a maior parte deles ilícitos, e cada vez mais Carlito ia sendo “atraído” e embaraçado nas redes dos seus atos. Ao longo da narrativa, é possível intuir, portanto, que o final não será feliz para Brigante, mesmo que o seu desejo fosse apenas vender carros e fugir para o “Paraíso” com sua namorada Gail (Penelope Ann Miller). Todo o filme é uma aula de cinema. Direção e roteiro primorosos, movimentos de câmera que aumentam a tensão psicológica, além da espetacular atuação de Sean Penn no papel de Kleinfeld. Qual a relação desta trama com as tragédias gregas?


.A primeira cena do filme mostra Carlito sendo baleado, e a narrativa já se desenvolve com o foco da câmera acompanhando o personagem ferido sendo conduzido em uma maca. Estaria, já na primeira cena, anunciado o destino de Carlito Brigante? As tragédias gregas são universais e atuais porque nelas identificamos uma questão existencial básica, pois, afinal, somos realmente condutores de nosso destino? Brigante, tal como Édipo e outros personagens clássicos, espelha essa figura simbólica, o herói trágico, que representa aquele que luta contra o caprichoso destino. Por isso, nessas estórias, não é o final previamente anunciado que nos fascina, é o caminho, a percepção do ponto obscuro das conseqüências, do nexo às vezes sutil entre atos e omissões, entre a vontade e o acaso que envolve os personagens que nos faz pensar. Com esses personagens todos nós nos identificamos subjetivamente porque também participamos do mesmo dilema humano, ou seja: ser personagem de uma saga que, mesmo com final anunciado desde que nascemos, não deixa de ser um grande (e belo) mistério.

Vladimir Luz, professor do curso de Direito da UNESC

MENINA DE OURO




Em recente entrevista, o biólogo Richard Dawkins fez uma polêmica afirmação: “… ao contrário do meu cão, do seu cavalo ou de seu gato, eu não terei o privilégio de ir ao veterinário tomar uma injeção indolor para dormir. Eu quero morrer sob anestesia geral, mas, por ser humano, faço parte da única espécie que está proibida de fazer isso.” Morte, sofrimento e escolhas. Temas importantes que são muito bem incitados pelo premiado filme “Menina de Ouro” (Million Dollar Baby) de 2004. A trama principal se desenvolve a partir de três personagens: a boxeadora Maggie Fitzgerald (Hilary Swank), o zelador Eddie Dupris (Morgan Freeman) e o treinador Frankie Dunn (Clint Eastwood), este último ator também responsável pela direção do filme.

Frankie era um veterano treinador de boxe de poucas palavras, olhar severo, estilo old school. Na academia de boxe trabalhava como zelador Eddie, ex-boxeador treinado por Frankie, que ficara cego de um olho em uma luta. Tudo muda quando Maggie entra definitivamente na vida desses dois veteranos do mundo do boxe. Maggie decide ser treinada por Frankie, e faz de tudo para que o velho turrão a aceite. Com o apoio de Eddie, Maggie convence Frankie a finalmente treiná-la. Daí em diante a trama cresce em intensidade, pois a persistente Maggie passa a vencer todos os desafios, um a um, dando um sopro de esperança, ainda que velado, àqueles velhos homens marcados pelas agruras dos ringues. Maggie, antes uma desconhecida garçonete, passou a ser uma pugilista vencedora chamada enigmaticamente por Frankie de “Mo Cuishle”. Ocorre que Maggie, em sua luta decisiva para seu triunfo, sofre um revés do destino que muda a vida destes três personagens. Nessa luta final, após um golpe sujo da adversária, Maggie fica tetraplégica.

Tanto quanto a própria vida, a morte humana é também cercada de valores e tabus. A forte provocação de Dawkins toca justamente nessas feridas morais que nos rondam há séculos. O que faria Frankie diante do pedido de Maggie, da sua súplica para ajudá-la a morrer? Tendo no centro da trama esta difícil escolha, o filme revela toda força simbólica do cinema como instrumento do pensar. Na penumbra do hospital, maleta na mão, Frankie ensaiou um beijo. Foi tudo ardentemente condensado, um instante pálido, corpos equidistantes. E dos velhos lábios, enfim, foram sussurradas as palavras cerimoniais, a-morais, o significado contundente de tudo, o que era realmente importante: “Mo Cuishle” – “meu tesouro”, “meu sangue”.

Vladimir Luz, professor do curso de Direito da UNESC (Publicado no Jornal da Manhã- Criciúma)

O LEITOR

Culpa, memória e perdão. Três idéias seminais, materializadas em atitudes e valores que marcam decisivamente nosso laço social. Não há duvida que o nosso mundo ocidental foi simbolicamente construído a partir dos desdobramentos atribuídos a essas três palavras, basicamente das oposições entre culpa e pecado, bem e mal, verdade e ilusão, condenação e perdão. É sobre todo esse material intensamente humano que trata o filme “O leitor”, baseado no romance homônimo de Bernhard Schlink. A questão central posta por Schlink é seguinte: diante da evidência da culpa de quem se ama, seria possível o perdão?



Alemanha hitlerista. Aos quinze anos de idade, Michael Berg se apaixonara pela já madura Hanna Schimtz. Tudo se deu ao acaso, quando Hanna o socorreu após um mal estar num dia de chuva. Padecendo de hepatite, após longo repouso, Michael foi reencontrar e agradecer aquela mulher misteriosa que prontamente o ajudou. Nos rotineiros encontros que se seguiram, Hanna curiosamente lhe pedia que lesse os livros que estudava no colégio. Michael foi o seu amante e seu leitor. Ao longo da película, Michael, já adulto, relembra todos esses instantes de leitura, sexo e paixão em flashbacks. Após a partida repentina de Hanna, ele foi estudar direito em Heildelberg, quando, após a Segunda Grande Guerra, numa de suas idas como estudante para o julgamento de nazistas, viu que o seu antigo amor estava agora no banco dos réus. Hanna, mesmo diante da pressão pós-Guerra, pois admitia sua participação na seleção de mulheres no campo de Auschwitz. E quando indagada pelo juiz da causa do por quê de não ter aberto a porta de uma igreja em chamas para salvar prisioneiras da morte, disse: “O que o senhor teria feito, então”? Hanna foi condenada à prisão perpétua.


“O Leitor” não é uma obra apenas sobre o nazismo ou as contradições entre a moral e o direito, entre o dever e a justiça. Há algo de extremo na memória de Michael, algo muito mais forte do que a culpa que Hanna talvez nunca tenha sentido. Toda essa reflexão faz lembrar uma outra “Hanna”, a pensadora judia Hannah Arendt, que por ironia do destino amou Heidegger, o grande filósofo que aderiu ao Reich. Heiddeger, apesar de todo clamor, nunca se desculpou, e Arendt, apesar disso, sempre o amou. Talvez o amor seja isso, um esquecimento sem culpa, um silêncio sem dor, um desencontro que não precisa de perdão.


Vladimir Luz, professor do cusdo de Direito da UNESC. (Publicado no Jornal da Manhã – Criciúma)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

PIERRE FATUMBI VERGER




Qual o sentido da vida? É possível determinar, racionalmente, as conseqüências de nossas escolhas? Estamos livres ou atados ao destino? Uma maneira possível de se pensar essas embaraçosas perguntas está em se perceber o sentido poético de algumas trajetórias singulares que marcam tantas outras vidas. Dessa perspectiva surge o exemplo da vida de Pierre Verger, tão bem retratado no documentário “Pierre Fatumbi Verger: Mensageiro entre dois mundos”` (1998) de Lula Buarque de Hollanda, com a narrativa de Gilberto Gil.

Pierre Verger era como todo jovem francês de classe média dos anos de 1920: oriundo de uma formação clássica, racionalista, um alegre “bon vivant”. Depois de largar os estudos aos 17 anos, com a morte de sua mãe, já aos 30, Verger inicia sua saga de viagens pelo mundo. Máquina Rolleiflex na mão, desde então surge uma das suas maiores facetas. Com sua lente sensível, Verger registrou como ninguém a beleza da diversidade humana, fotografando as culturas mais remotas do globo. Essa sensibilidade estética o fez chegar nos dois pólos de sua vida: Bahia e África. O francês, racionalista e burguês, de viajante passou a ser parte de sua aventura, passou, ele próprio, a ser sujeito das culturas que soube, com zelo e respeito, registrar e reverenciar. Após morar vários anos na África, nasce um outro Pierre Verger, o “Fatumbi”, que significa ser o renascido pelo jogo de Ifá. O documentário é rico em imagens e depoimentos, revelando a beleza dessa trajetória, com a narrativa cuidadosa de Gilberto Gil, que seguiu os caminhos de Fatumbi na Bahia e na África.

Verger deixou um forte legado para etnografia, livros, reportagens que hoje são acervo da humanidade. Mais há algo de maior valor. O que a trajetória de Verger pode nos deixar como parâmetro para se pensar a vida, as escolhas, o destino e o sentido poético de existir? Ao se reportar à vida do ator Raul Cortez, Contardo Galligaris afirmou que a qualidade de uma vida se mede pela ação do protagonista que “... seja qual for a distribuição das cartas pelo acaso ou pelo destino, ele jogou bem porque jogou sem medo de jogar.” Nem acaso nem destino, tampouco puramente escolhas racionais, isso espelha Verger: fazer da vida uma existência poeticamente corajosa consigo mesmo, e nada mais.


Vladimir Luz, professor do curso de Direito da UNESC. (Texto publicado no Jornal da Manhã - Criciúma)

P.s. Quando for a Salvador não deixe de visitar a Fundação Pierre Verger. http://www.pierreverger.org/fpv/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1

sábado, 15 de janeiro de 2011

EM SALVADOR





Foto de minha sobrinha, Júlia Luz Brito

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

VLADIMIR SAFATLE - FRAGMENTOS

" Quando questionamos a relevância das ciências humanas, questionamos, no fundo, a importância de compreender o que está por trás de fenômenos como: a modificação na estrutura da autoridade paterna no interior das famílias (psicologia), a participação de grandes grupos econômicos na gestão da ditadura militar (história), as consequências das modificações na estrutura da sociedade do trabalho (sociologia), os impasses de nossas democracias contemporâneas na sua procura de dar realidade institucional a exigências sociais de reconhecimento (ciências políticas), o impacto dos desenhos animados na construção da criança como categoria da sociedade de consumo (estudos de mídia), o que está por trás da nossa “construção” do Oriente etc. Mas talvez a questão seja: sobre esses fatos, há algo que não queremos saber, há algo que preferimos não saber. Só assim poderemos perpetuar nossas formas de vida, mesmo que elas estejam profundamente desgastadas."



* Vladimir Pinheiro Safatle é professor de Filosofia no departamento de Filosofia da USP.
[Este artigo foi publicado originalmente na revista Cult, de 03/08/09, edição

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

CHARLES BUKOWSKI




"O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece"

É ... Nicolelis... poderia ser pior, acredite. - Fragmentos

ENTREVISTA COM MIGUEL NICOLELIS

Miguel Nicolelis é um dos pesquisadores brasileiros de maior prestígio. Pioneiro nos estudos sobre interface cérebro-máquina, suas descobertas aparecem na lista das dez tecnologias que devem mudar o mundo, divulgada em 2001 pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês). Em 2009, tornou-se o primeiro brasileiro a merecer uma capa da Science. Na quarta-feira, foi nomeado membro da Pontifícia Academia de Ciências, no Vaticano. Ao Estado, Nicolelis falou sobre o impacto da neurociência no futuro da humanidade. Criticou de forma contundente a gestão científica no País, especialmente em São Paulo. Também questionou os critérios – marcadamente políticos – que teriam norteado a escolha do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.


"Como você se vê na Academia?

Sou um pária. Não tenho o menor receio de falar isso. Sou tolerado. Ninguém chega para mim de frente e fala qualquer coisa. Mas, nos bastidores, é inacreditável a sabotagem de que fomos vítimas aqui em Natal nos últimos oito anos. Mas sobrevivemos. O Brasil é uma obsessão para mim. Há muita gente que não faz e não quer que ninguém faça, pois o status quo está bem. Tenho excelentes amigos na academia do País, respeito profundamente a ciência brasileira. Sou cria de um dos fundadores da neurociência no Brasil, o professor César Timo-Iaria, e neto científico de um prêmio Nobel argentino – Bernardo Alberto Houssay.

Por isso, foi uma triste surpresa os anticorpos que senti quando eu voltei. Algumas pessoas ficaram ofendidas porque não fiz o beija-mão pedindo permissão para fazer ciência na periferia de Natal. Este ano, na avaliação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), tivemos um dos melhores pareceres técnicos da área de biomedicina. E o nosso orçamento foi misteriosamente cortado em 75%. Pedi R$ 7 milhões. Recebemos R$ 1,5 milhão.



Operamos com um sexto do nosso orçamento. As pessoas têm medo de abrir a boca, porque você é engolido pelos pares
. Então, eu fico imaginando um pesquisador que volta para o Brasil depois de estudar lá fora. De qualquer forma, o pessoal precisa entender que voltar para o Brasil é assumir um tipo especial de compromisso. Não é ir para Harvard, Yale… Você deve estar disposto a dar seu quinhão para o País porque ele ainda está em construção. Nem tudo vai funcionar como a gente quer. Vejo muita gente egoísta voltando para o Brasil. Os jovens precisam olhar menos para o umbigo e mais para a sociedade."

Fonte: http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/nicolelis-diz-que-sofreu-sabotagem-nos-bastidores.html

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

PEDRO DEMO - FRAGMENTOS II

"A nova LDB, infelizmente, consagrou a idéia obtusa da educação como ensino, instrução, treinamento, tendo como seu parâmetro mais ostensivo o aumento dos dias de aula para 200 no ano, como se a aprendizagem melhorasse pela via da acumulação das aulas . Ledo engano. O aluno que perde aula no fundo não perde nada, se a aula apenas reproduzir conhecimento superado. Dificilmente encontramos em nosso meio a aplicação de processos reconstrutivos, com base em pesquisa e elaboração própria no aluno, e em orientação e avaliação no professor. Quando pensamos em melhorar o ensino, pensamos logo em melhorar a aula, no fundo apenas incensando defunto, como é em grande parte a experiência banal das teleconferências: não passam, quase sempre, de uma aula mais enfeitada. Por outra, investimos também em outras instrumentações, úteis em si, mas que, sem o devido cuidado educativo, propendem a repisar o caráter reprodutivo de nossa didática, como o computador, a parabólica e mesmo o livro didático. Na verdade, o fator externo mais fundamental da aprendizagem do aluno é de longe o professor. Se este não souber aprender, não saberá fazer o aluno aprender. Sua tarefa essencial não é dar aula – qualquer um dá aula – mas fazer o aluno aprender."

Fonte: ftp://ftp.cefetes.br/.../TELEDUCAÇÃO%20E%20APRENDIZAGEM.doc

PEDRO DEMO - FRAGMENTOS



A pesquisa supõe uma reelaboração do conhecimento, ou seja, deve vir acompanhada de um processo de apreensão do conhecimento. Como a educação reconstrutiva concilia pesquisa e ensino?

Pedro Demo - Vamos colocar de outra maneira: você precisa de informação e de formação. Você não aprende sem vasculhar o que já está disponível. Mas a educação não é propriamente isso. Isso é meramente um processo informativo que pode ser feito pela eletrônica. Nem é preciso professor para meramente transmitir conhecimento. Mas o professor é absolutamente necessário para o processo reconstrutivo, como orientador, avaliador do aluno. A perspectiva muda bastante. O que nós estamos acostumados a ver no dia-a-dia é a proposta instrucionista, baseada no ensino, na instrução, no treinamento. Isso não é educação. Também é importante, também faz parte, mas o nível educativo se atinge realmente quando aparece um sujeito capaz de propor, de questionar. Precisamos de pesquisa e elaboração própria. São dois conceitos nos quais eu insisto bastante.

Fonte: http://www.educacional.com.br/entrevistas/entrevista0035.asp

Warat - Fragmentos II

Captura: Voltando à questão anterior do sujeito. Acredito que existe um dado que deva ser considerado, que vem sendo trabalhado por muitos autores como Derrida e Deleuze, que é a questão da subjetividade. Entendo que a subjetividade é constitutiva do sujeito. Como entender a subjetividade desgarrada do sujeito?

Warat: Não há nada além do desgarro. A subjetividade é constituída de fluxos desgarrados. Somos um devir constante. Tanto assim que você agora não é a mesma que estava sentada aí há dez minutos. Essa pessoa já não existe mais.
Porque a pessoa que está aí é diferente daquela que estava sentada há dez minutos e também será diferente daquela que irá embora daqui a meia hora.

Captura: Mas ao mesmo tempo são a mesma pessoa.

Warat: Como uma ficção. Você constrói a ficção de uma identidade na desigualdade. Você quer congelar o devir para deixar que teu corpo tenha alguns referentes fixos. Isso é uma ilusão. Muitas pessoas vivem essa ilusão.
Eduardo, Marta, vocês não existem. Eu também não existo. O mundo é um sistema de ilusões. E tentar sair desse sistema para ter uma mirada crítica também é uma ilusão. É claro que necessito ter algumas ilusões, porque senão não resta nada. Porém, o que existe além das ilusões? Nós temos que inventar um sentido para nossas vidas.


Fuente:
Revista CAPTURA CRÍPTICA: direito, política, atualidade. Florianópolis, n.2., v.2., jan./jun. 2010Revista Discente do Curso de Pós-Graduação em Direito - Universidade Federal de Santa Catarina
http://www.ccj.ufsc.br/capturacriptica/n2v2.htm






Fonte
http://luisalbertowarat.blogspot.com/2010/01/entrevista-luis-alberto.html

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

PLANO DE DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO

"O juízo crítico se desenvolve mais
pela forma como se ensina do que pelo conteúdo do que se ensina.
Mas a falta ou o excesso de conteúdo, por exemplo, contamina a
forma. A relação entre forma e conteúdo é igualmente dialética e é
sua justa mediação que dá ao educando condições de, por um lado,
aprender a agir autonomamente dentro de um marco de referência
universalista para, por outro lado, habilitá-lo a se desenvolver na sua
particularidade. É essa condição que permite ao indivíduo autônomo
tanto sua autodeterminação quanto sua auto-realização, seja colocando-
se da perspectiva ética de membro de uma comunidade em devir,
seja pela afi rmação de seu próprio valor por meio de atividades
criativas, como as ciências ou as artes."

Fonte: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me004370.pdf

WARAT - FRAGMENTOS



"RF - O Sr. defende seus pensamentos partindo de um princípio pessimista ou realista?
LAW - O princípio fundamental é o Anarquismo. Sacanagem pura, no autêntico sentido do anarquismo.
.
CF - Para prevenirmos a violência, existe algum caminho, na sua concepção?
LAW - Sim. Colocando poesia e beleza na convivência das pessoas.
.
CF - Como o Sr. define a Anarquia?
LAW - Uma luta permanente contra os meios de comunicação que nos imbeciliza, contra as instituições que nos imbeciliza, contra a religião judaica, muçulmana e o cristianismo que nos imbeciliza. É nossa forma de pensamento porque somos ateus.
.
CF - Como vamos conseguir introduzir os valores na humanidade se não através da religião, da cultura e da educação?
LAW - Essa pergunta me deixa claro que você precisa rapidamente ser tratada.
.
CF - Mas então qual é o caminho?
LAW - Através da sensibilidade, recuperando a animalidade, pois somos animais racionais.
.
CF - Através da arte, é isso?
LAW - Sim.
.
CF - Mas a religião também pode trabalhar a sensibilidade, não?
LAW - Não. Ela manipula a sensibilidade!"

fonte: http://tailinehijaz.wordpress.com/2011/01/03/entrevista-irada-com-warat/#comment-378

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

UNIVERSIDADE POPULAR: MICHEL ONFRAY

Fragmento de entrevista com Michel OnfraY



As escolas foram associadas à domesticação do indivíduo. Essa idéia ainda é válida?

M.O- Mas claro. Penso que as escolas não funcionam senão com isso e para isso. Elas não fabricam senão indivíduos dóceis, obedientes, form

atados, que pensam o que os outros mandam eles pensarem, da forma como mandam. Elas ensinam o que é necessário para reproduzir o sistema social. A Universidade Popular é uma alternativa a isso.
- Hoje, qual seria a função do professor?Onfray -

M.O- O professor é aquele que conduz, que aponta o norte, o sul, e depois diz ao aluno: 'Vire-se você, faça o seu próprio caminho'. Nietzsche dizia que um bom mestre é aquele que ensina os alunos a se desligarem dele. Então é preciso ensinar as pessoas a se desligarem de seus mestres, a serem mestres de si mesmas. É um estranho paradoxo, mas nós, professores, somos feitos para não existir. O que interessa é que as pessoas tenham uma relação direta com a filosofia, na qual eu serei apenas um mediador. Eu sou feito para desaparecer.-

O sr. acha que a escola deveria mudar?

M.O. - A escola deveria ser um lugar onde as pessoas tivessem vontade de estar, de ir e vir, um espaço mais ligado à vida da cidade, com cinema, cafés, bibliotecas, lugares de conferência. A escola se abriria para o mundo do ponto de vista arquitetural, mas também colocaria o saber mais em consonância com as necessidades da época, trazendo valores integrais e proposições que permitissem, por exemplo, discutir o que é o monoteísmo. Será necessário aprender sobre Carlos Magno? Será que não se deveria aprender outra coisa, de outra forma? Penso que há outros conteúdos, outros métodos, que poderiam ser adotados, bem como um novo modelo de frequência, de modo a permitir dizer ao aluno: 'Construa você mesmo o seu aprendizado'.


O que é o saber, hoje, depois que se aprende a ler, escrever e contar?

M.O- É preciso aprender a pensar e a reunir a isso todos os saberes que permitem conhecer. Eu não estou certo que o trabalho de memória sobre um certo número de fatos seja útil para pensar. Então que se trabalhe a retórica, a argumentação, a lógica, a construção de um discurso e de uma proposição. São coisas que se pode aprender, mas que não se aprende. A gramática acabou nas escolas. Imagino que se possa reunir o clássico e o moderno, ensinando também o que é ecologia, informática, biotecnologia etc.

VEr a íntegra: http://brigadasinternacionais.blogspot.com/2007/11/entrevista-michel-onfray-191107.html#links