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Michel Onfray,
professor de filosofia, tem um curioso diagnóstico: “é um paradoxo, mas nós,
professores, somos feitos para não existir”. A necessidade de um “desligamento”
necessário sugerido por Onfray, de uma relação pedagógica pautada na busca da
autonomia dos sujeitos (alunos e professores) me faz pensar sobre o filme “Gênio
Indomável”, particularmente na relação terapêutica estabelecida entre os
personagens Will Huting (Matt Demon) e Sean McGuire (Robin Williams).
Will morava num
subúrbio. Trabalhava em empregos de baixa qualificação, saia com os amigos para
beber, se divertir e arranjava algumas brigas, as quais lhe renderam algumas
detenções; mas Will possuía uma diferença, ele era o que se convencionou chamar
de “gênio”; mas era um “gênio indomável”, como bem sugere o título em português
(no original Good Will Huting). Ocorre que Will foi descoberto “por acaso” por
um professor catedrático em matemática, quando, ao fazer a limpeza no pátio da Universidade,
resolveu um dificílimo problema de matemática deixado num quadro. Finalmente
descoberto o autor da façanha, uma questão urgente deveria a ser resolvida: por
conta de suas arruaças, um juiz determinou que Will poderia ficar em liberdade
provisória, contanto que buscasse ajuda terapêutica regular, o que foi
encaminhado pelo professor que o descobriu.
Com todo gênio, Wiil
era realmente indomável. Resolvia problemas de matemática cada vez mais
complexos, mas, porém, sua personalidade arredia
e seu temperamento
construíram uma couraça que o tentava proteger do mundo. Will criou um
verdadeiro inferno para todos os terapeutas que foram procurados. Até que Sea
(Robin Willams) passou a ser o seu terapeuta. Tudo mudou desde o primeiro
encontro. Will. Aos poucos Will passou a ser entregar no processo terapêutico,
Mas mesmo quando ambos estavam envolvidos em seus diálogos, o terapeuta olhava
o relógio e dizia “times is up”. E no final, após um emocionante processo de
descoberta, Will pergunta: “É o fim”? “Sim, agora é com você, ’time is up’,
disse Sean. Desde então, Will não mais voltou para o trabalho que fazia antes,
tinha pegado a estrada, após ter conseguido um ótimo emprego, mas preferiu
primeiro encontrar a garota que amava na Califórnia.
Parece que um pouco
disso tem ligação com o que Onfray falou, claro que num
contexto diferente. Educação,
como processo de autonomia (terapia?), é justamente isso: saber a hora de dizer
ao aluno que o tempo acabou, que é hora de se virar, mas que há ali alguém para
ouvir, e não só falar, e se falar, falar apenas de experiências e não de
roteiros prontos; saber que existe a hora do encontro, do diálogo, mas que também
há a hora da partida, e que aprender, apesar de livros, dos professores e dos
métodos milagrosos, é uma decisão pessoal. Essa concepção não desonera o
professor de suas tarefas essenciais, apenas reafirma uma ideia enfraquecida em
tempos atuais: a responsabilidade pessoal
do aluno em sua
formação, Por isso que Onfray, inspirado em Nietzsche, pensa que professor é
aquele que faz tudo para que o aluno vire mestre, que siga seu caminho, sua
estrada, aquele que sabe dizer “time is up”.
P.S. Texto feito em 2011... hoje, Sol em Leão, lua em peixes... sem Robin Willams