sábado, 26 de outubro de 2013

REVOLUÇÃO


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Por onde anda a sua revolução?
Talvez ela esteja escondida nos pequenos afazeres do dia
Tímida, entre o banho e o café da manhã
Acanhada, cismada, observando as cores da TV
Sua revolução abraça o travesseiro em noites de insônia
Espera ligações que nunca chegam
Em cada segundo do dia sua revolução rumina lembranças
Caiando de vermelho o céu que nos observa
O mesmo céu dos antigos, moldura do homo sacer

Por onde anda nossa revolução?
Perdida em sonhos – quiçá os mesmos de antes
Corpos perfilados, pólvora e morte
Nossa revolução se esconde nesses abraços apertados
Nesses olhares que nunca se encontrarão – quiçá outros doravante
Revolução sem ganhadores nem perdedores
Uma revolução mesquinhamente libidinal
Carne e suor

E foi assim que tudo aconteceu
A revolução chegou silenciosa
Abriu as janelas
E, num desses dias de calor carioca,
Nua
A revolução se fez



26.10.2013
Vladimir Luz







domingo, 20 de outubro de 2013

AFROEMAS – Xangô (100 anos de Vinicius de Moraes)


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Para quem tudo foi tirado – Todos são iguais perante a Lei?
Para os que viraram coisa – famélicos do mundo!
Para os que rondam os palácios de mármore – Construídos por quem?

Eis a sombra do fogo que desce o caminho
Vermelho, sangue de tantos
Eis a justiça, epieikeia – Oxé!

Para os que erguem tribunais espúrios – atiram a primeira pedra?
Para os sacerdotes da verdade –  vendilhões que buscam templos!
Eis a sombra do trovão, Zeus – Yorubá

Para os que têm sede de justiça  – urdidura do presente
E não perdem a ternura
Jamais.

20.10.2013
Vladimir Luz


sábado, 19 de outubro de 2013

AFROEMAS – OXOSSI (100 anos de Vinicius de Moraes)


Flecha da vida - cortante
Flecha do destino

Fronte luzente, melanina
Fronte de muitos

Canto que cruza o Atlântico
Olhar penetrante, silêncio
Mata, urbe, pólis
Golpe

Flecha da vida – cortante
Flecha do destino

A força de tantos – liberdade
Vida que teima, renasce
Andar sobranceiro, vitória
Eros, Aruanda
Ofá, afeto

Flecha da vida - cortante
Flecha da vida - poesia
Sempre
    
  
19.10.2013

Vladimir Luz

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

VINICIUS


Vi partidas
Armadilhas
Vi emoções
Ilusões
E se me fecharam os olhos
Vi poesia
Vi inicios
Vinicius

18.10.2013
Vladimir Luz

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

EPÍGRAFE

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Nem tanto amor nem tanto ódio O que mata é a indiferença
Nem vitória nem derrota O que enoja é a falta de utopia
Nem inteligência nem burrice O que nos condena é essa brutal ausência de espanto
Isso serve para mim, serve para nós...
Nem pecado nem luxúria A questão está no medo de viver
Nem tanto a juventude nem tanto velhice O tempo é um só
Nem inícios nem finais O sentido está no caminhar
Tudo isso pode não servir E que assim o seja Para mim e pra nós
10.11.2007 Vladimir Luz
Imagem: Carta do Tarot de Osho

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

METÁFORA

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Toda verdade é pouca
Quando a imagem, Oca,
Aquece a face do destino

Toda razão é louca
Quando a vida, Pouca,
Deixa o corpo em desatino

Toda rima é rota
Quando a palavra, Solta,
Faz-se corpo libertino

E na lassidão do sentido
Tudo é flor
Tudo é parido
Tudo é dor

Talvez amor, anjo da luz
Anjo caído


04.02.2009

Vladimir Luz

Quadro de René Magritte