quinta-feira, 22 de julho de 2010

CAUSALIDADE

Imagine um lugar distante e imaginário
Um lugar cheio de questões intrigantes

Onde as pessoas valorizam concretamente mais o ter, o parecer ter, o consumir
E se perguntam assustadas: por que razão não há solidaridade ?

Um lugar onde pensar é coisa de filósofo
Arte é coisa de desocupado
Em que educação virou uma mercadoria
Em que tudo tem que ter um fim pragmático
E as pessoas se espantam: por que será que não há mais esperança?

Nesse lugar as pessoas votam na aparência, no gosto, no jeito
E se perguntam: por que será que os políticos não prestam?

Nesse lugar aquilo que não dê retorno imediato, recompensa material é besteira
E se perguntam: por que o que importa não é feito?

Nesse lugar imaginário o estar só com os seus, a intolerância com o diferente é o que vale no cotidiano
E se grita com indignação feroz: por que não temos mais liberdade?

Nesse campo de ficção, apenas o corpo com formas pré-estabelecidas pode ser belo
Apenas o jovem, laborativo e sem “defeitos” é o que importa
E se perguntam assustados: nossa, por que será que tudo é tão superficial ?

Nesse lugar, todos amam a lei, a moralidade e a punição exemplar
Mas se afirma, com risos de sincera alegria, “quem cola não sai da escola” e “quem pode mais, chora menos”

Nesse mesmo lugar, vale mais ser querido que ser sério, ser sisudo que ser alegre
A dor só vale quando for minha, e o outro só tem valor se satisfazer meus desejos mais particulares
E se pergunta com estupor em todos os cantos: por que há tanta injustiça?

Estranho lugar
Misteriosas perguntas



Vladimir Luz