terça-feira, 8 de maio de 2012

PINA

 Por que precisamos da arte? Eu sempre tive uma resposta para esta pergunta. Convincente, lógica, bem articulada, enfim, uma resposta pronta. 

Após o filme PINA, dirigido por Wim Wenders, passei a duvidar de minhas firmes convicções sobre este tema. O filme-documentário trata da obra, da vida de Pina Bausch. Na há uma narrativa tradicional. Praticamente todo o filme é composto pelas coreografias dirigidas por Pina ao longo de sua vida. Há pouquíssimas falas. Entre uma cena e outra, um raro depoimento, uma breve imagem de Pina e seu estilo de pensar e realizar a arte da dança. As palavras eram subordinadas ao movimento.

De todas as artes, confesso que a dança sempre me causava certo estranhamento. Para mim, eram as palavras que detinham o monopólio do mistério que faz a arte ser o que ela é, seja ela (a arte) o que for. Mesmo no cinema, no teatro, na opera, lá estavam as palavras. Todavia, ao ver PINA, o filme, uma sensação diferente me ocorreu. Fiquei seduzido em tentar explicar (sempre elas, as palavras), em buscar nas palavras o sentido daquilo que acabara de ver. 

Angústia, amor, solidão, felicidade, vida, morte, beleza seriam apenas palavras? Não. São experiências, e como tal podemos senti-las de diversas formas, até mesmo com palavras. Pina Bausch fez do corpo e do movimento testemunhas e confidentes dessas experiências. Elas não são redutíveis a palavras. Corpo e movimento agem como poesia que desvela o ser que se mostra como é. Por isso não tenho mais respostas sobre o sentido da arte, mas apenas, intuições. Em suma: a arte não serve a nada, porque não pode ser reduzida a um instrumento, a um “para que” (seria essa uma resposta?). A arte apenas é parte do que somos. Assim sendo, tende a nos transportar a uma certa experiência, a uma certa morada na qual habitamos como seres paridores de sentido, presos ao tempo, atados a nossa inexorável finitude. A isso, a essa experiência estética, que nos faz sentir mais próximos do humano em seu ser (e não o ser humano), que a arte se coloca como espelho. 

Hoje não quero mais palavras. Basta o corpo, o movimento, o toque, o gesto. Finalmente pude compreender (e não entender) aquilo que Nietzsche disse certa feita: “temos a arte para que a verdade não nos destrua”. Ou melhor, na versão de Pina Bausch: “Dance, dance, dance, senão estaremos perdidos”  

Agora tenho (sou) muito mais do que respostas.  
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08.05.2012 Vladimir Luz