Warat acalentava a ideia de abrir
uma faculdade de direito em
Curitiba. Havia uma criativa corruptela que já marcava o nome da Faculdade: LAW – Luis Alberto Warat. Sua logomarca era um pinguim que sugeriria
uma ruptura de padrões. Warat achava que o problema do ensino jurídico era
justamente a sua “pinguinização”, com a qual juristas se comportavam, se
vestiam e pensavam todos iguais. O projeto do curso era, como Warat, único.
Arte com eixo básico. Locais fundamentais da escola: um circo e um café, e não
salas de aulas. Ao lado das disciplinas obrigatórias, o mais importante era
dança (para professores e alunos). Fui convidado para fazer parte do corpo
docente deste inusitado projeto. Nem pestanejei. Fui até Curitiba algumas
vezes. Numas dessas ocasiões, quando da visita in loco da Comissão da OAB, vivenciei um momento raro.
Estava em um hotel no centro de
Curitiba. Desci para tomar café. Lá estava Warat. Sentei ao seu lado. Passamos
boa parte da manhã conversando. Na época estava elaborando o projeto de minha
tese justamente sobre uma das mais importantes reflexões waratianas: o senso
comum teórico dos juristas. Luis Alberto (como era chamado por Marta Gama) falou
sobre seu pai, sua infância; tratou de fatos pitorescos sobre Cossio, Nino. Falou
de sua fraternal relação com Albano. Foi então que me revelou de onde nasceu a
ideia do neologismo “senso comum teórico dos Juristas”. Disse que tal ideia
nascera quando da leitura de Althusser (Filosofia e Filosofia espontânea dos
cientistas). Eu já desconfiava das origens estruturalistas (Althusserianas ou mesmo
bourdieunianas) dessa ideia, ainda que indireta ou inconscientemente.
Lembro deste momento como algo
muito importante para minha trajetória, algo que marca meu currículo oculto. Naquela
manhã eu não estava diante do meu ídolo de juventude, do mestre de uma geração
desbravadora da critica jurídica no Brasil. Naquele momento, estavam ali duas
pessoas conversando sobre coisas em comum, rindo da vida e de si mesmos, sem
nenhuma pretensão “séria”. Haveria espaço para estes encontros hoje em dia, em
nossas rotinas docentes? Nossos currículos lattes comportariam, em algum lugar,
o item específico “café com Warat”? Aliás, pouco importa para esta lembrança
coisas como lattes e rotinas pedagógicas. Lembro que, entre um gole de café e
os suculentos – e hoje politicamente incorretos – ovos mexidos, Luis, o portenho-brasileiro mais baiano do mundo, dizia: “Vladimir, a vida é uma ilusão,
precisamos ter as boas, as boas ilusões”.
Que assim seja.
12.10.2012
Vladimir Luz
Foto do dia em que tomei café com
Warat.