quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

PIERRE FATUMBI VERGER




Qual o sentido da vida? É possível determinar, racionalmente, as conseqüências de nossas escolhas? Estamos livres ou atados ao destino? Uma maneira possível de se pensar essas embaraçosas perguntas está em se perceber o sentido poético de algumas trajetórias singulares que marcam tantas outras vidas. Dessa perspectiva surge o exemplo da vida de Pierre Verger, tão bem retratado no documentário “Pierre Fatumbi Verger: Mensageiro entre dois mundos”` (1998) de Lula Buarque de Hollanda, com a narrativa de Gilberto Gil.

Pierre Verger era como todo jovem francês de classe média dos anos de 1920: oriundo de uma formação clássica, racionalista, um alegre “bon vivant”. Depois de largar os estudos aos 17 anos, com a morte de sua mãe, já aos 30, Verger inicia sua saga de viagens pelo mundo. Máquina Rolleiflex na mão, desde então surge uma das suas maiores facetas. Com sua lente sensível, Verger registrou como ninguém a beleza da diversidade humana, fotografando as culturas mais remotas do globo. Essa sensibilidade estética o fez chegar nos dois pólos de sua vida: Bahia e África. O francês, racionalista e burguês, de viajante passou a ser parte de sua aventura, passou, ele próprio, a ser sujeito das culturas que soube, com zelo e respeito, registrar e reverenciar. Após morar vários anos na África, nasce um outro Pierre Verger, o “Fatumbi”, que significa ser o renascido pelo jogo de Ifá. O documentário é rico em imagens e depoimentos, revelando a beleza dessa trajetória, com a narrativa cuidadosa de Gilberto Gil, que seguiu os caminhos de Fatumbi na Bahia e na África.

Verger deixou um forte legado para etnografia, livros, reportagens que hoje são acervo da humanidade. Mais há algo de maior valor. O que a trajetória de Verger pode nos deixar como parâmetro para se pensar a vida, as escolhas, o destino e o sentido poético de existir? Ao se reportar à vida do ator Raul Cortez, Contardo Galligaris afirmou que a qualidade de uma vida se mede pela ação do protagonista que “... seja qual for a distribuição das cartas pelo acaso ou pelo destino, ele jogou bem porque jogou sem medo de jogar.” Nem acaso nem destino, tampouco puramente escolhas racionais, isso espelha Verger: fazer da vida uma existência poeticamente corajosa consigo mesmo, e nada mais.


Vladimir Luz, professor do curso de Direito da UNESC. (Texto publicado no Jornal da Manhã - Criciúma)

P.s. Quando for a Salvador não deixe de visitar a Fundação Pierre Verger. http://www.pierreverger.org/fpv/index.php?option=com_frontpage&Itemid=1

2 comentários:

  1. Tchê, já estou baixando o filme que tu recomendas, depois te digo minhas impressões.
    Me pareceu fundamental conhecer este fotógrafo e etnógrafo, inclusive para fazer referência em sala de aula.

    Valeu, abraço

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