sábado, 19 de fevereiro de 2011

Benjamin Button



Além dos efeitos de maquiagem e um roteiro razoavelmente bem costurado, o filme “O Curioso Caso de Benjamin Button” (The Curious Case of Benjamin Button) tem o mérito de abordar de maneira singular o tema da finitude humana. Benjamin era diferente. Enquanto todos nós cumprimos uma trajetória existencial, marcada pelo nascimento, envelhecimento e morte, Benjamin já nasceu fisicamente velho e progressivamente ia rejuvenescendo. Enquanto seu corpo tomava, pouco a pouco, ano após ano, forma juvenil, todos os outros, seguindo o roteiro “natural”, invariavelmente envelheciam e morriam. O filme todo propicia, portanto, uma reflexão não só sobre a “curiosa” e bizarra situação de Benjamin. O que está em debate, no fundo, é a nossa característica humana mais humana: o fato de sermos os únicos, como diria Heidegger, lançados no mundo com a consciência do fim.

O tema da finitude, desde os Gregos, tem sido o ponto e o contraponto da filosofia. Para Luc Ferry, toda filosofia clássica gravita em torno da questão da vida e da morte. Afinal: se a morte é um fato inescapável, como viver plenamente? Qual o sentido da vida, já que o fim é certo? Como devo agir? Para quem acha que se trata de “papo furado” de filósofo, a questão da finitude é democrática: atinge a todos sem exceção. Explico. Conscientemente ou não, de forma mais elaborada ou não, todos nós agimos e pautamos nossas trajetórias pessoais a partir desta certeza de que o tempo limitará nossas vidas. Até mesmo quando nos omitimos, dirão os existencialistas, estaremos decidindo nossa existência. Nós humanos, intelectuais ou não, homens e mulheres, pobres ou ricos, portanto, pautamos nossas vidas a partir deste tema. Obviamente, o mundo moderno e ocidental busca sublimar a angústia de tema tão aparentemente sinistro. Afinal, além da certeza do fim, a morte nos separará de quem amamos, além de vir, na maioria das vezes, sem aviso. Diante do inevitável, dirão os “realistas”, a vida segue, com enconros e desencontros. Sobre este aspecto, o filme, em forte medida, é também uma bela história de amor; uma história premeditamente condenada ao desencontro.

Algo mais. Diante do fim, da decadência do corpo e do imprevisto, o que fazer? Parece que um mundo, como o atual, que nega a morte e a velhice, entendendo-as como antíteses da condição humana, será um mundo que também negará, como pensava Nietzsche, a própria vida. Em algum lugar um raio cairá em alguém, um amor se fará e separações serão inevitáveis. O mais curioso é que o relógio, indiferente a tudo isso, não para.

Vladimir Luz, professor do curso de Direito da UNESC

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