sábado, 18 de setembro de 2010

IRA III (Da série: meus pecados prediletos)

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A tua palavra transpira medo

Medo de ser como eu sou

Medo de não poder não ter medo

Medo de não poder deixar de se esconder em bem-estares

Medo do teu desejo que cedeu às convenções

Medo dos teus sonhos que cederam à vida burguesa

Medo de olhar opções que não foram as tuas melhores opções

Eu, o indigno, o impuro, o sujo, sou o alvo do teu medo

Atira, então, a primeira pedra do teu medo

Atira de forma rápida e certeira o petardo do teu rancor-moral
porque assim teu medo se transformará na moral pálida de muitos

Muitos gritarão contigo: morte ao herege!

Age, outrossim, como um filisteu, com um hipócrita, como um medíocre

Vive, ao lado dos teus, do teu gado, dos acomodados, dos normais

Rumina toda essa grama podre de veleidades colhida no pasto da tua vida caiada de branco

Vai, como Catilina, tecer intrigas, bisbilhotar à noite, afiar facas e preparar venenos

Pois eu, como Giordano, prefiro queimar a ter cravado no peito a lança do teu perdão imundo

E que a morte nunca chegue ao teu leito

É melhor que vivas eternamente

Sejas feliz para sempre – e com medo


Vladimir Luz

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