Eu te acuso, você que
... regula cada gota do seu precioso sangue, e quer ter seu sangue procriado em outro quando não mais puder ver os Seus nesta terra vagabunda de lágrimas, nutrindo o mesmo afã de um vírus, dando a este produto o nome pomposo de “família” ;
Você que .
.. deseja a felicidade coletiva, mas calcula precisamente seu bem-estar pessoal, sempre dosando a areia preciosa de sua ampulheta na mira do seu sono tranqüilo, e chama isso de “instinto de sobrevivência” ;
... acha bonita a compaixão e a esperança. e chega a olhar para o homem da cruz com júbilo, mas desconfia secretamente da natureza humana, e se encolhe na sua concha a observar precavidamente tudo que é alheio;
Você que não é bom nem mau, pairando habilmente nessa azáfama humana, sendo visto quando importa, e se escondendo quando vai ser atingido, falando apenas o que se quer ouvir e calando para não ser o próximo alvo do lobo que sempre se esgueira à sombra;
... que sabe exatamente aonde pode chegar na vida e por isso mesmo não se desespera nem arrisca, colhendo cada moeda duramente guardada nos tempos em que a cigarra te alegrou no inverno;
... que é tolerante na medida que a tolerância importa para te tolerarem, e que sabe ter virtù mais do que fortuna.
Por tudo isso eu te acuso,
E com o gosto do meu escarro eu te condeno,
finalmente,
À felicidade eterna.
10.06.08 Vladimir
Nenhum comentário:
Postar um comentário