domingo, 1 de junho de 2008

MANUAL HEDONISTA

Vem ser errante na vida
Deixe os planos debaixo da porta
Porque a sorte é mulher difícil, e o destino um cruel amigo
Aceite essas intensidades que a maioria abomina
Chore de dor, a mais profunda dor, com a contundência crua que a dor merece
Gema de prazer, faça a cama ranger, acorde os vizinhos, sinta do prazer tudo que é possível, sem culpa nem receio
De tudo o máximo possível: a água no deserto, o vinho no banquete, o cobertor no frio e o vento no calor
Vem, vem ser tolo como só você sabe ser
Deixem que falem da roupa, do peso, das espinhas, do jeito de andar
Ria de si, das dores de barriga, das insônias, das topadas, dos pensamentos que você nunca ousou dizer
Lembre-se, então
De raspar a panela de brigadeiro sem medo
E que há muito mais profundidade no ovo frito do que nas leis
E que os leões comerão gazelas enquanto houver savana
O sol se apagará um dia
Vírus tentarão raptar novas células
Bilhetes serão lidos
Carros colidirão
E toda a rotina se fará
E tudo será assim
Como um erro
Um encanto súbito
Um beijo tardio
Uma palavra repetida mil vezes
Hemoglobina rala
Pequenos cactos no sertão
E tudo será assim mesmo
Assim mesmo
Como você sempre sonhou
Uma placa de bronze
Trombetas e fogos
Um corpo nu
Silencio e a solidão
Pois sobrará de tudo isso apenas o desejo
Seu infiel parceiro para o último gole
O único capaz de ser você mesmo
Aquele que não te perdoará
Pois seu ser é agora
Agora: esse nada que nos consome.

17.04.2008
Vladimir Luz

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