quarta-feira, 17 de agosto de 2011

PALESTRA EM SP - SITE DA UPF

17/08/2011 - 16:26
Professor da Faculdade de Direito profere palestra em congresso nacional


Foto: Divulgação/UPF




Professor falou sobre educação jurídica popular e acesso à justiça
O professor Vladimir Luz, da Faculdade de Direito da Universidade de Passo Fundo (FD/UPF) proferiu a palestra Educação jurídica popular e acesso à justiça: marcos teóricos e experiências, durante o 1º Congresso Nacional sobre a atuação da Defensoria Pública na Educação em Direitos. A atividade ocorreu na tarde de 11 de agosto, no auditório da Defensoria Pública de São Paulo, capital paulista.

O congresso foi realizado de 8 a 12 de agosto, e incluiu debates sobre educação em direito promovidos por membros da Defensoria e profissionais de diversas áreas – como educadores, antropólogos e psicólogos.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

CARTA AOS MEUS ALUNOS DE TC I



Prezados alunos (as),

Já se disse que livros eram, em verdade, cartas feitas para amigos . Essa identidade entre cartas e livros seria ainda importante para nós? Suspeito que sim.

Numa certa concepção clássica e humanista de mundo, livros e cartas apenas se diferenciavam pela extensão, pois ambos, no fundo, colocavam-se como instrumentos vivos do diálogo, do encontro e da partilha, ações que sempre foram fundamentais para a realização do conhecimento humano. Pensando nesses termos, o autor de um livro pode, então, ser visto não como o dono de uma verdade imaculada, um ser distante e abstrato, passando a ser sentido pelo leitor como alguém real, um cúmplice ou confidente. Adotando-se essa percepção, ficará fácil compreender que, ao escrever um livro, determinado autor quer simplesmente partilhar sua visão de mundo e as formas pelas quais conseguiu (ou não) enfrentar problemas que mobilizaram suas forças e desejos. Portanto, sempre que leio um livro, tenho a sensação de estar conversando com alguém cuja presença é real, concreta, como se cada palavra, cada linha, fosse a confidência viva de um amigo, mesmo que suas ideias não coincidam com as minhas. Afinal, amigos não são necessariamente aqueles que pensam igual, mas pessoas que se compreendem e se respeitam em meio a toda diversidade.

Não pretendo, aqui, ser tão exaustivo como um livro. Mas, aproveitando essa identidade perdida (ou desconhecida) entre livros e cartas, inicio nosso diálogo na disciplina Trabalho Monográfico I neste segundo semestre de 2011. Começo nosso diálogo como se fazia nos tempos áureos do humanismo, ou seja: escrevendo uma singela carta.
Pois bem, alunos (as), nesta missiva, pretendo partilhar com vocês algumas ideias pessoais, impressões muito gerais acerca do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), no caso específico de nosso curso: vou tratar da famosa monografia. Algumas questões me ocorrem fortemente quando penso em monografia, quais sejam: (1) para que fazer uma monografia no curso de direito? (2) qual a relevância de um projeto para quem deseja fazer uma boa monografia? (3) Quais os desafios mais comuns que rondam a fase inicial de elaboração de uma monografia?

Enfrentemos, pois, a primeira indagação. Alguém pode pensar que se faz uma monografia apenas por conta de uma exigência curricular. É uma resposta possível e talvez até legítima, ou seja: faço monografia por ser obrigado a fazê-la. Para quem essa resposta se mostrar como suficiente, sugiro pular a parte inicial de minhas considerações. Todavia, suspeito que fazer uma monografia significa muito mais que uma obrigação formal. Para tal questão, posso dar a resposta que eu tenho no momento, a qual não é a única, tampouco a melhor. Vamos a ela: a monografia pode (veja bem, pode) ser um dos momentos mais importantes da formação dos graduandos em direito. Explico melhor: se feita com rigor, ética acadêmica, metodologia compatível e vontade de saber, a monografia é instrumento único na formação do aluno. Vários são os motivos dessa importância. Primeiro, fazer uma monografia implica ser proativo tomar partido, ter de tomar decisões pessoais importantes que não podem ser transferidas para ninguém. Não quero dizer que não se é atuante noutros momentos da graduação em direito; digo apenas que, na monografia, por ser um trabalho de elaboração intelectual do aluno, não há espaço para posturas passivas, pois nós, todos nós, alunos e professores, temos de nos expor, decidir a todo instante o que fazer e como fazer, o que nem sempre ocorre nas tradicionais estratégias de aula expositiva. Há outro motivo, derivado do primeiro: ainda que seja um trabalho simples, a monografia concretiza a missão central de uma universidade, qual seja: realizar a educação superior mediante estratégias de pesquisa. Isso é pouco? Não, esses motivos são suficientes para considerar a monografia um momento estratégico, especial para a formação de vocês.

Vejamos a segunda questão: qual a relevância de um projeto para quem deseja fazer uma boa monografia? Ora, por ser um trabalho que segue parâmetros acadêmicos, é preciso entender que não se faz uma monografia sem um projeto. A qualidade do resultado da monografia depende em grande medida da qualidade do projeto. Um projeto bem elaborado pode evitar problemas no processo de caminhada. O projeto, assim, é como um mapa: aponta os caminhos e as metas, evidencia aos leitores da comunidade cientifica e geral todos os elementos que usamos para o caminhar. Mas, como tudo na vida, penso que um projeto de monografia não é um mapa inflexível, suficiente em si mesmo: ele deve ser dinâmico, ainda que tenha de apresentar elementos mínimos da trajetória que o aluno adotará para escrever sua monografia.
Vamos aproveitar mais a metáfora do mapa. Quando, por exemplo, discutirmos termos como “tema”, pense num pais que você escolheu para sua caminhada; “delimitação do tema” pode ser visto como o local especifico, uma cidade desse país que será o ponto de chegada; o “problema” como a questão que moveu você até ao ponto de chegada, ou aquilo que deve ser enfrentado pelo seu caminhar para atingir meta de chegada. O problema, visto metaforicamente, pode ser muitas coisas que instiga você, aluno-andarilho: um atalho a ser a superado, um desvio que não foi visto, uma melhor descrição, ou a possibilidade e entender como outros caminharam antes de você.
Por ser um mapa, o projeto deve ter elementos comuns, compreensíveis a todos que queiram caminhar conosco. Nesse sentido, as tais regras da ABNT nada mais são que a sinalização, as placas desse mapa, a partir das quais todos da comunidade podem se guiar de forma comum. Por isso que, por serem placas, seguem uma rígida padronização, e a sua formalidade só nos serve para isso: facilitar o entendimento comum do texto. Trataremos dessa metáfora do mapa ao longo das aulas, quem sabe ela nos auxilie de forma efetiva na elaboração desse mapa chamado projeto.

Por fim, gostaria de compartilhar algumas ideais sobre a última questão: quais os desafios mais comuns que rondam a fase inicial de elaboração de uma monografia? Vejamos apenas duas ponderações;

a) fazer um projeto de monografia requer paciência. Nada mais daninho para essa fase de elaboração do projeto do que a cultura “miojo”, com a qual as coisas devem ser feitas quase instantaneamente. Sugiro: ruminar, mastigar as dúvidas. Tudo dentro de certos limites e prazos. Mas reflita sobre o seguinte: algumas vezes é preciso conviver com certa angústia, não para ficar imobilizado, mas no sentido de se motivar em caminhar. Tempo, paciência e ação na hora certa, esses parecem ser o segredo para a construção de um projeto;

b) tema deve ser construído a partir do campo de interesse pessoal do aluno. Em resumo: quanto mais o tema surgir do campo do desejo do aluno, maior será a sua viabilidade. Por mais que seja difícil, precisamos encontrar o tema que tem a ver com nossos gostos pessoais, para, depois, decompô-lo, delimitá-lo, ver sua viabilidade e operacionalidade. Cuidado, então, com essa coisa de temas da moda. Siga, inicialmente, o seu afeto para decidir o campo de pesquisa da sua monografia. Esse esforço inicial de encontrar o tema a partir de nossa dimensão afetiva faz toda a diferença.

Bem, era isso para começar. Essa carta segue como um pretexto inicial para o nosso diálogo ao longo do semestre. Não são ideais fechadas, nem dicas infalíveis. Ao contrário, essas breves ponderações atravessam parte de minha trajetória como professor, a qual também é feita não só de acertos, mas também de dúvidas e de questionamentos. No fundo, livros, cartas, monografias são pretextos para nossa autonomia a partir do conhecimento. Esse conhecimento partilhado é o que devemos fazer na universidade.

Espero ansiosamente pelas cartas que vocês me escreverão ao longo do semestre. Aguardo as respostas de vocês. Até breve.

Passo Fundo (RS), ainda inverno, 01 de agosto de 2011.

Vladimir Luz
Após um excelente café expresso.